As escolhas de Sofia do produtor sob pressão

O ciclo é perverso: com o cobertor curto, o produtor se obriga a ter que sacrificar o plantio ou o crédito. Com o índice de desconfiança maior, os bancos exigem mais. E aí, além do capital e do nome, o patrimônio também começa a ser comprometido.
E é por isso que a Farsul vem alertando para o perigo dos modelos de contrato impostos pela rede bancária e suas garantias exigidas. O diretor jurídico da casa, Nestor Hein, reforça a orientação de que o produtor tenha toda cautela quanto a alienação fiduciária e tomem recursos via outros modelos:
“Qualquer problema que haja, ele poderá não ter o recurso e perder a sua propriedade”
O alerta do experiente advogado vem ao encontro de um levantamento do Departamento Financeiro da própria Farsul mostrando que o agronegócio está vivendo a sua pior crise de crédito e de inadimplência dos últimos 30 anos. E o problema não é somente no Rio Grande do Sul, agredido pelo clima nas últimas safras, é brasileiro, por razões diversas e conhecidas.
Conforme a coluna tinha informado na semana passada, houve uma queda significativa dos desembolsos bancários dos Plano Safra nestes três primeiros meses de ciclo ante os mesmos junho, agosto e setembro da safra passada. Na linha de custeio essa redução é de 23%, na de investimento é de 44%.
Para o economista Antônio da Luz, que liderou o estudo, sempre houve diferenças entre aquilo que é anunciado com pompa publicitária pelos governos e o que é realizado, o problema atual é que o que está sendo disponibilizado não está sendo acessado. No Plano Safra anterior essa realidade já tinha dado sinais, mas agora ela salta aos olhos.
E o que está ruim, diz da Luz, pode piorar, já que muitos dos financiamentos pagos, hoje, ainda estão com juros menores dos agora praticadas. E 75% do dinheiro disponibilizado à agricultura são reembolsados com juros livres, com zero subsídio. É onde crédito e passivo se encontram.
Numa síntese realista, a taxa de inadimplência que em julho bateu na casa dos 5,14%, superando o pico de 2017, quando chegou a 3%, deverá aumentar nos próximos seis, nove meses. O econimista complemena:
"Ou seja, “vai piorar antes de começar a melhorar”
Os remédios para a dor passar mais rápido está em Brasília, mas ninguém tem esperança de a porta da farmácia se abra. Linhas de crédito que ajudem a reduzir esse passivo, fortalecimento do seguro rural e do Proagro são algumas dessas soluções apontadas pela Farsul.
Antônio da Luz pondera:
“A crise de confiança sobre o produtor ficou muito grande. Irá levar anos para levantar o seguro de novo"
______
A coluna diária de Alex Soares é reproduzida também em áudio para os programas Primeira Hora e Redação Acústica (Rádio Acústica FM), Bom Dia Cidade e Boa Tarde Cidade (Rádio Tchê São Gabriel) e Jornal da Manhã (Tchê Alegrete). Ouça abaixo