O campo fora da pauta eleitoral gaúcha

Reeleger o governador José Ivo Sartori ou fazer do ex-prefeito de Pelotas Eduardo Leite o seu sucessor? Diferenças? Algumas, mas o que mais se têm mesmo são semelhanças. Já provaram serem do bem, que enxergam na política um instrumento de melhoria da rotina coletiva.
Os seus partidos também são irmãos de vida. Quantos governos MDB e PSDB já compartilharam? Inclusive este de Sartori, como mostra a foto acima, feita na oficialização do apoio tucano à campanha que elegeu o emedebista em 2015. São grupos que defendem bandeiras em comum, a começar pela disposição de privatizar o que puder.
O ibope divulgou no meio desta semana que Leite teria uma vantagem aproximada de 1,1 milhão de votos neste segundo turno. Confirmado isso, o ex-prefeito teria uma votação no dia 28 de 3,6 milhões. Segundo o mesmo levantamento, o êxito de Sartori passaria pela reversão de uma votação como a de Porto Alegre, por exemplo, o que é bem complicado.
Para Sartori, estar no segundo turno já é um feito e tanto. Foi um governo até aplicado administrativamente, mas de poucos resultados práticos. Mas sobretudo foi frágil na articulação política. A negociação da dívida entre estado e União ilustra isso, assim como as fracassadas tentativas de compor com os seus próprios deputados nos polêmicos projetos. Uma gestão de muitos diagnósticos, justificativas e transpiração, mas de raríssimas notícias positivas. Que digam os servidores do Estado.
Com relação a Eduardo Leite pouco se sabe, mas quem sai com 70% dos votos dos seus conterrâneos já merece respeito. Entretanto, administrar um município é bem diferente de comandar um Estado problemático.
Assusta a maneira com a qual o ex-prefeito tucano vende o seu peixe, dando a entender ser a panacéia definitiva. Diz Leite que antes de completar o seu primeiro ano de gestão os salários do funcionalismo voltam a ser pagos em dia. Só não fica claro sobre como ele e sua equipe farão isso. E se fizerem qual será o santo nú?
"Nenhum dos dois fala em algum tipo incentivo à produção, que diga-se, não precisa ser necessariamente o financeiro"
Ambos também frustram pela pouca atenção dada ao setor rural. Seja nos debates, nos programas eleitorais ou nas entrevistas o espaço é quase zero. Quando fala, o atual governador propagandeia a instalação de duas delegacias para combater crimes no campo e lembra da expansão do pavilhão da agricultura familiar na Expointer. É pouco, mas não tem muito mais a falar mesmo.
Nenhum dos dois fala em algum tipo incentivo à produção, que diga-se, não precisa ser necessariamente o financeiro, não citam alguma ação que estimule a comercialização dos grãos ou das carnes gaúchas com compradores de fora ou de um programa que venha a melhorar as condições de escoamento das safras. Sobre a conclusão da duplicação da BR 116 - Sul, nenhum deles se anunciou parceiro para engrossar a cobrança em Brasília.
O certo é que virá janeiro e seja ele novo ou antigo, o governo pouco irá influenciar na vida de quem planta, de quem cria, de quem fornece. A reciprocidade dos governos com o campo, defitivamente, não é verdadeira.
Por Alex Soares
Foto: Luiz Chaves/Arquivo