Proibição do herbicida: solução para alguns, arapuca para todos

Proibição do herbicida: solução para alguns, arapuca para todos

Será a Justiça que vai resolver a contenda da deriva do 2,4-D. Digo isso pelo ambiente que se formou, beligerante. Afirmo isso em cima do que vi e ouvi na audiência pública desta terça-feira (23) do Ministério Público. E também a partir das entrevistas que fiz ao final dela.

O promotor de Justiça Ambiental Alexandre Saltz já tem a sua decisão. O prazo dado de 30 dias para que a Secretaria da Agricultura apresente alternativas, além das medidas anunciadas e sugeridas, é apenas protocolar.  O MP ingressará com uma ação.  A pena que vai pedir nela é que é a dúvida. 

Os produtores de uva e azeitonas da Campanha e os de maçã de Vacaria não trabalham com outra hipótese a não ser a da proibição do uso do herbicida de ação hormonal, que mata a buva da soja, mas também detona as frutíferas vizinhas se mal aplicado.

As oito medidas sugeridas pelo secretário da Agricultura, Covatti Filho, que luta por uma saída política, não sensibilizaram os defensores da proibição, que argumentam falta de tempo e de condições técnicas para aplicá-las. Entre essas ações estariam a criação de um sistema de alerta de deriva, identificação dos aplicadores através dum cadastro, treinamento e acompanhamento técnico.

Na audiência pública reforçaram os argumentos dos atingidos o super produtor Valter José Pötter, da consagrada Vinícula Guatambú, e do deputado federal progressista e produtor Afonso Hamm. Ambos falaram das suas experiências para atacar o 2,4-D, cuja defesa dos seu usuários se mostrou frágil até aqui.

Mas vai além do alívio dos vitivinicultores e do aumento dos custos de produção da soja uma eventual proibição da utilização do 2,4-D. Ao buscarem estancar os seus prejuízos (e têm todo o direito para isso), ao mesmo tempo em que rejeitam a lista oficial de propostas, os denunciantes podem estar dando também um certeiro tiro no pé, já que inauguram um perigoso precedente jurídico.

Não vale reclamar se ali adiante uma hipotética "associação dos consumidores de vinho orgânico" entrar na justiça pedindo a proibição da aplicação e da venda do Indaziflan, do Haloxifone ou mesmo do Glifosato nos parreirais.

Para os rançosos adversários do setor, essa briga entre produtores está caindo no colo, sem qualquer esforço. Um presente!

Em tempo: na ata da audiência pública de terça-feira, ficou registrada a assinatura do representante do deputado Edegar Pretto (PT), só ausente por causa de importante votação na Assembleia Legislativa.

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Por Alex Soares

Confira as entrevistas abaixo.