Arroz: para indústria está muito bom como está. Azar do resto

Arroz: para indústria está muito bom como está. Azar do resto

Por Alex Soares/Brasília

Representantes dos produtores de arroz que participaram da audiência pública na Câmara Federal,nesta terça-feira (21) saíram com sentimentos antagônicos. Se por um lado houve valorização aos produtores, pelo espaço aberto pelo legislativo e órgãos federais, por outro tiveram a plena certeza de que se depender da sua indústria a cadeia orizícola será sempre desparelha. E desta vez, isso foi dito sem floreios, publicamente e sem pudor. 

Tanto na audiência na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural,  quanto na primeira reunião que tratou dos encaminhamentos das demandas, na Secretaria de Política Agrícola do Mapa, os representantes da Associação Brasileira das Indústrias de Arroz (Abiarroz) deixaram muito claro que são contra qualquer medida que venha a tirar o seu grupo da zona de conforto.

Tanto a diretora executiva da entidade Andressa Souza e Silva, quanto o seu presidente Elton Doeler (ver entrevista em video abaixo) se opuseram de forma contundente – e sobretudo deselegante - a qualquer modificação nas relações comerciais que envolvam o arroz no Mercosul. Por eles pode continuar entrando o produto do Paraguai, do Uruguai ou da Argentina ou de  qualquer outro canto. Justificativa oficial: ‘Seria uma contradição fechar portas aos parceiros regionais ao mesmo tempo em que se busca novos mercados mundo afora para o arroz brasileiro’. A verdadeira: para quê se indispor com fornecedores externos que vendem sua produção a um valor sempre abaixo do praticado pelos compatriotas?

Para Abiarroz, o ideal seria o custo de produção se tornar igual para todos. Essa é uma defesa fácil, pois trabalhar com a expectativa de o Brasil reduzir tributos é esperar pelo improvável. A Indústria também contesta uma ofensiva isolada na fiscalização fitossanitária ao arroz importado. Até  concorda, mas desde que isso também seja aplicado ao produto brasileiro. A Abiarroz também teme que eventuais apreensões possam gerar alarde e redução de consumo. Zelo? Não, isso é chantagem mesmo. E descarada.

Menos mal que perante as autoridades, às vezes, o peso de quem manda é o mesmo dos que estão com mãos e pés amarrados. O Departamento de Defesa Vegetal do Mapa e a Anvisa irão sim começar a endurecer as análises do arroz importado. E quem é da indústria, se tem um pouquinho de visão, sabe muito bem o efeito dominó que pode representar a condenação de uma amostra. E mais: o presidente da Federarroz, Henrique Dornelles e o diretor jurídico da entidade, Anderson Belloli anunciaram que irão até as últimas consequências no que se refere à salvaguarda do arroz nacional. 

Deboche e conceitos

A postura da indústria já repercutiu e gera reações entre os produtores. Inclusive algumas ações estratégicas podem ser tomadas pela Federarroz nas próximas semanas.

Se esse for mesmo o pensamento oficial de todos os donos de engenho é melhor nenhum deles falar mais em cadeia produtiva. Soará debochado e falso. Se não for, é melhor reverem os seus conceitos de representação da sua associação.