"Eu não vou atrasar salários", afirma Heinze

Na série de entrevistas que o titular deste blog começou a realizar com os aspirantes ao governo do Rio Grande do Sul, conversei com o pré-candidato pelo Progressista, o deputado federal Luis Carlos Heinze. A conversa foi no programa de rádio Conexão Rural, no último sábado (12).
Nascido em Candelária, região central do Estado, Heinze foi prefeito da fronteiriça São Borja por dois mandatos na década de 1990 e mantêm assento na Câmara Federal por cinco legislaturas consecutivas.
Com sua atuação voltada ao setor primário, o também produtor Heinze, de 67 anos, tentará se tornar o primeiro governador do seu partido (antes PDS, PPB e PP) desde 1987, quando Jair Soares deixou o cargo.
Na entrevista que transcrevemos abaixo, Heinze respondeu a questionamentos que envolvem a realidade atual e o futuro do RS. Respondeu também a itens que pautarão a campanha eleitoral deste ano.
Alex Soares – Nos últimos 20 anos, 18 deles foram de orçamentos estaduais fictícios enviados pelo governo à Assembleia legislativa. Isso continuará se repetindo?
Luis Carlos Heinze – Não somente o orçamento púbico, mas tudo aquilo que envolve a economia estadual precisa estar dentro da realidade. Mais do que tratar a coisa assim, precisamos corrigir a nossa economia. Vejam bem: em 2017, somente de juros do custeio da máquina pública, o RS pagou R$ 20 bilhões. Na previdência, arrecadamos R$ 5 bi e o seu custeio foi de R$ 15 bi. Somente nestas duas situações já temos a geração de um déficit de R$ 30 bi. E sabe qual foi o nosso orçamento de 2017? R$ 63 bi.
Tenho muito claro que o nosso desafio será o de enxugar gastos, equilibrar as contas, mas sem deixar de investir. Temos que fazer gestão de verdade, assim como as empresas eficazes fazem.
AS – Em 2004 o Estado gastava 17% do seu orçamento com previdência, hoje são 42%. Já com a folha de pagamento o custo que era de 62% da receita passou para 73%, hoje. Como o senhor pretende equalizar isso?
LCH – O problema da previdência não se resolve da noite para o dia. É uma sequência de ações que irá sanar isso. E aqui precisamos ser justos, pois os recentes governos promoveram algumas medidas, mas que só irão começar a dar resultados daqui a oito ou dez anos. Mas é assim mesmo.
Na minha gestão, a questão da previdência será encarada e tratada com muito rigor, já que se continuar assim, haverá uma hora em que não terá mais como mantê-la.
Em relação ao servidores, eu quero dizer uma coisa: eu não irei atrasar salários, eu vou pagar em dia. Assim como faço na minha empresa há 44 anos e assim como foi quando fui prefeito de São Borja, quando os vencimentos sempre estiveram em dia e o décimo-terceiro salário pago antecipadamente. Parto da seguinte lógica: como poderei cobrar um professor ou um policial militar por melhores resultados se eles não recebem em dia? Fica difícil, né?
AS – E por que o senhor acha que o governo Sartori atrasou salários? Ele poderia tê-los mantido em dia?
LCH – São estratégias que cada um adota. Se eu comprei diesel e fertilizante e chegou o dia do vencimento e eu não tenho como pagar, vou lá e negocio para 30, 60 dias. Saio do comércio, dou um jeito de vender um arroz e pago a conta. Com juros, mas pago. Agora, o que não pode acontecer é eu escolher entre pagar essa conta no dia e sacrificar o meu empregado, atrasando o seu salário. Se tem alguém neste caso para ser penalizado esse é o administrador. O que não pode o meu funcionário chegar no fim do mês e não ter como pagar o supermarcado, a conta da luz ou o colégio das crianças porque o patrão não pagou seu salário.
AS – Um problema sério do Estado é a infraestrutura, sobretudo dos transportes, que gera atrasos e prejuízos. A ferrovia seria uma alternativa, mas foi deixada de lado e não existe investimento algum, ultimamente. Como o senhor pretende melhorar isso?
LCH – Nós temos lagoas e rios que somam 1.200 km navegáveis. Sabe quanto usamos disso? Apenas 700 km. O nosso porto de Estrela está funcionando precariamente e o de Rio Grande, o terceiro do país, sempre apresenta problemas. Olha, o que temos que fazer é estimular parcerias com a iniciativa privada, deixar as empresas investirem. O Estado não tem o direito de atrapalhar ninguém. Se não pode investir neste ou naquele segmento, que consiga quem o faça. Esse aspecto da infraestrutura está no meu radar, já começamos a ouvir as entidades e temos projetos.
Nas ferrovias, já fizemos contatos, através do Ministério do Planejamento, com um fundo americano que se propõem a analisar a situação. Se conseguirmos mais 500 km de malha ferroviária, está bom. Mas temos que ter um início.
AS – E o Porto de Rio Grande. Entra ano e sai ano e os problemas são os mesmos. Qual a sua proposta?
LCH – O Estado precisa ao menos fazer a sua parte. Coisas simples como a entrega de documentos aos órgãos ambientais dentro dos prazos já iriam ajudar muito. Há três ou quatro anos vivemos esse dilema: falta dinheiro para dragagem, nós deputados vamos lá e conseguimos esses recursos com a União; ai falta a documentação que deveria ser entregue pelo estado para o licenciamento ambiental e tranca tudo.
O terminal de arroz mesmo, há oito anos, empresas que se utilizam do terminal da Cesa (Companhia Estadual de Silos e Armazéns) se propuseram fazer o investimento necessário ali, e o valor depois seria descontado nos impostos. Nada feito e os empresários até hoje esperam a resposta.
CR – Mesmo sendo favorável às parcerias público-privadas, o senhor é crítico ao plebiscito da venda das estatais este ano.
LCH – Isso está muito grenalizado (Grêmio x Internacional). Fazer um plebiscito em meio a eleições é complicado. O governo teve três anos para fazer isso e não fez. Vai fazer agora, é? Em maio, manda uma proposta para a Assembleia para fazer a consulta em outubro e vende em novembro? Não tem tempo hábil para isso. O que proponho é fazer esse plesbiscito no meu primeiro ano de governo, assim teremos tempo para discutir e debater com a sociedade, sem a influência eleitoral. Os gaúchos é que irão decidir o que faremos, mas com tempo, sem correria.
AS – Como o senhor pretende resolver a questão do Irga (Instituto Riograndense do arroz), que vem tendo baixas consideráveis de pessoal por causa dos baixos salários?
LCH – O Irga arrecada R$ 100 milhões por ano e pouco utiliza disso para lavoura de arroz. E esse é um recurso gerado pelo produtor. Vamos ter que achar soluções. O Irga tem patrimônio, certo? E patrimônio que não está sendo utilizado e pior, invadido, depredado. Olhem as propriedades de Guaíba e de Palmares do Sul, as quais estão ociosas. Imaginem fazer caixa desse patrimônio e utilizar esse dinheiro para estruturar a pesquisa, ampliar a assistência técnica e investir em tecnologia. Mais, poderemos criar um fundo garantidor aos arrozeiros que forem mal numa ou noutra safra. É bom lembrar que 60 % desses arrozeiros não possuem acesso ao crédito oficial. Essa é uma das várias ideias que estamos buscando para recuperar o Irga.
AS – O senhor é bastante conhecido no interior, mas em Porto Alegre e a sua Região Metropolitana não. Para vencer uma eleição estadual, é obrigatório reverter esse anonimato. Como será isso?
LCH – Vamos falar também da Serra, que junto com a Grande Porto Alegre representam metade dos votos do Estado. Bom, eu fiz 3.665 votos na Capital sem entregar um santinho. E isso nada mais é do que uma corrente de eleitores que se forma, é gente que me conhece do interior e que influencia nos votos de Porto Alegre. E são pessoas que de um jeito ou de outro estão ligadas à agricultura e conhecem o meu trabalho. Numa campanha ao governo a tendência é se potencializar mais esse efeito multiplicador.
AS – O que o senhor e o seu partido já acertaram e podem acertar com relação a apoios?
LCH – Já temos certo o Democratas conosco, além do Pros e e de outros cinco partidos menores. Estamos em negociações com outras siglas, como o PRB, o PL, o PTB e o PSB. Inclusive o Rede já demonstrou interesse em se coligar conosco. Estamos começando a construir essa grande aliança.
AS – No plano nacional, a sua candidatura se alinhará com a de algum candidato à Presidência da República?
LCH – Olha, o que dá para dizer é que será um candidato de centro-direita. Temos nomes, casos do Bolsonaro, do Álvaro Dias, Geraldo Alckmin, do Flávio Rocha, do João Amoêdo. Mas não temos um nome definido, quem vai decidir isso serão os progressistas e os integrantes dos partidos aliados.
AS – O PP gaúcho, há algum tempo, gravita em torno da senadora Ana Amélia Lemos. Ela pode é ou não uma aliada?
LCH – Ela está entrando na nossa campanha. Tivemos dois grandes eventos recentes no interior e na Capital e ela esteve conosco. E nós precisamos que ela seja reeleita senadora. Aliás, em 2017, ela foi escolhida a melhor parlamentar do Brasil.
AS – Tema muito delicado para o senhor, e que fatalmente virá à tona na campanha, foi aquela declaração que o senhor deu em 2013 quando falou que “quilombolas, índios, gays e lésbicas são tudo o que não presta”. Como o senhor irá tratar isso quando provocado?
LCH – Isso me rendeu dois processos, nos quais fui absolvido pelo STF. Eu não tenho nada contra esses grupos e que isso fique claro. Agora, sou contra sim quem decidiu pelo envio de muito dinheiro público a movimentos que se diziam representar esse pessoal, mas que na verdade são de fachada, pois só ganhavam verbas porque são alinhados ideologicamente. Dinheiro que, aliás, faltou e falta em outros lugares, como saúde, educação, para os programas de auxílio às pequenas propriedades.
E quem coordenava isso? O Gilberto Carvalho (ex-chefe da Casa Civil dos governos Lula e Dilma), que é um crápula. E a minha revolta era contra ele. Estamos falando de quem acorbertou o assassinato do seu cunhado, o Celso Daniel (então prefeito petista de Santo André -SP-, morto em 2002). A minha contrariedade, portanto, era com ele e com esses grupos que surrupiaram recursos públicos que hoje faltam para muitas obras inacabadas, como as estradas.
Além do mais, tenho amigos negros desde a infância e é só perguntar a eles como os trato.